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terça-feira, 7 de abril de 2020

Sugestão de leitura


ARTIGO
Prof. Dr. Alexandre Santos de Moraes, da Universidade Federal Fluminense
A maioria de nós foi estimulada a ver os EUA como protetores da humanidade. Mesmo nas guerras com objetivos eminentemente comerciais, o discurso de liberdade e defesa da democracia em favor de povos tiranizados parecia a justificativa política nobre e necessária para toda sorte de genocídios. A indústria cinematográfica não mediu esforços para vender essa imagem. Antes, quando os soviéticos eram os principais antagonistas, o super-herói alienígena que ganhou cidadania americana não media esforços para livrar a humanidade de uma guerra nuclear.

Quando as tensões da Guerra Fria arrefeceram, novos inimigos foram imediatamente escalados. Além do Oriente Médio, que situava a salvaguarda das liberdades no plano terreno, os EUA combateram, em nome da vida no planeta, uma série de ameaças alienígenas. Não pouparam investimentos para vender a imagem de que estávamos mais seguros com eles. Nada disso é novidade, mas ainda que muitas vezes a ficção se desdobre como uma possibilidade real, em outras tantas não passa de simples fantasia oportuna, rasteira e miserável.

A ameaça surgiu e não veio de outro planeta. Ela é invisível a olho nu, mas seus efeitos são duramente sentidos: no momento em que escrevo, ultrapassamos a marca de um milhão de casos e 70 mil mortos, mas esse número é certamente subestimado. A letalidade é alta para uma doença que se dissemina com tanta facilidade, e para nosso lamento, a pandemia está apenas no começo. Poucos duvidam que o número de vítimas excederá os da Guerra do Vietnã, mas se essa parece uma cifra demasiado distante, façamos outra conta: já morreram 23 vezes mais pessoas do que no atentado às Torres Gêmeas ou 11 vezes mais do que o número de mortos pela polícia brasileira no ano de 2019. Não mata mais que a fome, é verdade, que atinge 820 milhões de pessoas no mundo, mas isso não é uma competição, mesmo porque os famintos são também os mais frágeis diante dos sintomas do COVID-19, tanto pela imunidade baixa como porque não gozam dos mesmos privilégios sanitários e acesso à saúde que os que se alimentam em demasia.

Mas acontece que o vírus é um inimigo sem vergonha. Ele anda por aí sorrateiro, disfarçado, incólume, apátrida. Além disso, não faz distinção entre ricos e pobres em termos de contágio: Bill Gates e Jeff Bezos podem se contaminar da mesma forma que o mais miserável dos sujeitos. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, foi infectado pela mesma doença que faz padecer centenas de Josés e Marias da América Latina. É aí que mora o segundo perigo do coronavírus, pois ele abre o flanco para discursos que falsamente atribuem condições de igualdade ou indistinção entre ricos e pobres. É o momento em que sai do fundo do poço aquele sujeito de bom coração que diz “estamos todos no mesmo barco” e que “é preciso superar as diferenças pelo bem comum”. Nada poderia ser mais falso, e os EUA estão aí para que lembremos disso.

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