Há 10 mil razões para tratar Bolsonaro como ameaça
Escrito por Josias de Souza Colunista da UOL
As imagens oferecidas ao país por Jair Bolsonaro são flashs de uma inconsciência conscientemente ostentada. O presidente emite sucessivos sinais de que não quer saber o que está acontecendo. Seja o que for, não está acontecendo com ele.
Neste sábado, o país ganhou mais de dez mil razões para tratar Bolsonaro não como uma paródia marcada pelo exagero cômico, mas como uma séria ameaça. No curto intervalo de 55 dias, a pandemia do coronavírus matou mais de dez mil pessoas no Brasil.
Neste sábado, dia em que a marca foi ultrapassada, Bolsonaro fez piada com um "churrasco fake" e passeou de jet ski pelo Lago Paranoá. Parou ao lado de uma lancha. Em conversa com simpatizantes, disse: "É...uma neurose -70% vai pegar (sic) o vírus. Não tem como. Loucura!"
A frase repete uma cantilena que Bolsonaro entoa desde que o coronavírus fez a sua primeira vítima oficial no Brasil, em 17 de março. Para o presidente, pandemia é apenas um outro nome para "histeria".
O isolamento social, por "inútil", só serve para arruinar a economia. Por isso, os brasileiros com menos de 60 anos deveriam submeter-se à infecção "como homens", pois ela é inevitável.
Na definição do poeta Mario Quintana, o autodidata é um ignorante por conta própria. Bolsonaro, que se graduou em ciência lendo a bula da cloroquina, demora a notar que a doença do ignorante é ignorar a sua própria ignorância. O capitão dá de ombros para uma singela evidência médica: quanto menor for a adesão ao isolamento, maior será o número de cadáveres.
O vírus produz multidões de pacientes que não passam pela porta da UTI. Daí a necessidade de atenuar a velocidade do contágio. Sem uma vacina, não há alternativa senão empurrar as ruas para dentro de casa. Mas Bolsonaro gasta baldes de saliva para sustentar que "o país precisa voltar à normalidade".
Pense nessa tese do presidente sem pensar no resto. Esqueça tudo, pense só na retomada de uma hipotética normalidade. Com o isolamento à brasileira, adotado por governadores e prefeitos sem uma coordenação nacional, a pilha de caixões evoluirá rapidamente de patamares para níveis inacreditáveis. Sem o isolamento, aí mesmo é que a mortandade evolui para a categoria do genocídio, com aval de um governo cujo lema é "Deus acima de todos."
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