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domingo, 10 de maio de 2020

"Um governante que desgoverna o seu País"

Há 10 mil razões para tratar Bolsonaro como ameaça
Escrito por Josias de Souza Colunista da UOL

As imagens oferecidas ao país por Jair Bolsonaro são flashs de uma inconsciência conscientemente ostentada. O presidente emite sucessivos sinais de que não quer saber o que está acontecendo. Seja o que for, não está acontecendo com ele.

Neste sábado, o país ganhou mais de dez mil razões para tratar Bolsonaro não como uma paródia marcada pelo exagero cômico, mas como uma séria ameaça. No curto intervalo de 55 dias, a pandemia do coronavírus matou mais de dez mil pessoas no Brasil.

 Neste sábado, dia em que a marca foi ultrapassada, Bolsonaro fez piada com um "churrasco fake" e passeou de jet ski pelo Lago Paranoá. Parou ao lado de uma lancha. Em conversa com simpatizantes, disse: "É...uma neurose -70% vai pegar (sic) o vírus. Não tem como. Loucura!"

 A frase repete uma cantilena que Bolsonaro entoa desde que o coronavírus fez a sua primeira vítima oficial no Brasil, em 17 de março. Para o presidente, pandemia é apenas um outro nome para "histeria".

O isolamento social, por "inútil", só serve para arruinar a economia. Por isso, os brasileiros com menos de 60 anos deveriam submeter-se à infecção "como homens", pois ela é inevitável.
Na definição do poeta Mario Quintana, o autodidata é um ignorante por conta própria. Bolsonaro, que se graduou em ciência lendo a bula da cloroquina, demora a notar que a doença do ignorante é ignorar a sua própria ignorância. O capitão dá de ombros para uma singela evidência médica: quanto menor for a adesão ao isolamento, maior será o número de cadáveres.

O vírus produz multidões de pacientes que não passam pela porta da UTI. Daí a necessidade de atenuar a velocidade do contágio. Sem uma vacina, não há alternativa senão empurrar as ruas para dentro de casa. Mas Bolsonaro gasta baldes de saliva para sustentar que "o país precisa voltar à normalidade".

Pense nessa tese do presidente sem pensar no resto. Esqueça tudo, pense só na retomada de uma hipotética normalidade. Com o isolamento à brasileira, adotado por governadores e prefeitos sem uma coordenação nacional, a pilha de caixões evoluirá rapidamente de patamares para níveis inacreditáveis. Sem o isolamento, aí mesmo é que a mortandade evolui para a categoria do genocídio, com aval de um governo cujo lema é "Deus acima de todos."

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