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Num belo dia, um delegado recebe uma denúncia anônima: a de que em determinado endereço há grande quantidade de drogas. Em seguida, a autoridade policial pede a uma juíza que autorize busca e apreensão. A magistrada autoriza e expede a ordem indicando apenas o endereço, sem o nome do alvo. A polícia constata que tudo não passou de uma grande mancada. Não há nenhum entorpecente, mas, mesmo assim, os policiais levam computadores, disquetes e pen drives do dono da residência. Como havia testemunhas, a droga não foi plantada no local.
Tudo isso aconteceu, na última terça-feira, na cidade de Paulínia (SP), na residência de Marcos Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao serem questionados, os envolvidos disseram “não saber” de quem se tratava. Algo improvável diante da implacável perseguição judicial que vem sendo empreendida contra o ex-presidente — personagem que, segundo o último Datafolha, lidera todos os cenários da sucessão presidencial, com pelo menos 35% das intenções de voto.
Até agora, nenhuma justificativa foi dada para a batida policial realizada a partir de uma denunciação anônima e caluniosa. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que pretende disputar a Presidência contra Lula, se mantém calado, assim como seu secretário de Segurança Pública, diante de uma prática típica de polícias políticas como a SS nazista ou a Stasi da antiga Alemanha Oriental. O natural seria um pedido de desculpas e a imediata devolução de todos os itens apreendidos — que, a essa altura, já podem ter sido copiados com outras finalidades — quem sabe, a preparação de dossiês para a campanha de 2018.
Lula, como todos percebem, vem resistindo à caçada judicial. Embora tenha sido condenado pela Justiça paranaense por reformas num imóvel do Guarujá (SP) que nunca lhe pertenceu, segundo os registros de imóveis, ele continua subindo nas pesquisas. A tendência é que essa mesma sentença seja confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, fazendo com que ele se torne “ficha suja”. No entanto, seu registro só poderá ser impedido pela Justiça Eleitoral depois da publicação do acórdão — ou seja, após a análise de todos os embargos e recursos, o que praticamente judicializa a próxima disputa presidencial.
Em paralelo, a chamada sangria do senador Romero Jucá (PMDB-RR) vai sendo estancada e diversos personagens que assaltaram o poder vêm escapando de denúncias muito mais graves. Essa seletividade da Justiça brasileira, que assumiu um viés político e partidário, vem produzindo um efeito oposto ao desejado. Em vez de atingir Lula, apenas o fortalece, uma vez que a população brasileira começa a enxergar o Poder Judiciário como um instrumento de classe e de opressão contra os mais pobres, que, vítimas desse sistema, passam a se identificar ainda mais com o ex-presidente.
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