Pessimismo e esperança
Por Luciano Siqueira Médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB
É da nossa tradição, as palavras fluem automaticamente: desejamos uns aos outros um Ano Novo rico em realizações e desejos alcançados. Mas este ano há um complemento indefectível: "Se for possível, né?"
É da nossa tradição, as palavras fluem automaticamente: desejamos uns aos outros um Ano Novo rico em realizações e desejos alcançados. Mas este ano há um complemento indefectível: "Se for possível, né?"
O nó está precisamente nesse complemento, que traduz insegurança e pessimismo.
A imprevisibilidade que marca o cenário político turbinado pela crise econômica e institucional se reflete no ambiente familiar e no estado de ânimo individual: ninguém se sente seguro de nada.
As promessas de retomada do crescimento econômico e da oferta de novos postos de trabalho e de "reunificação" da nação - ponto de destaque na cantilena pró-impeachment - se revelam vãs.
O "pacotinho" de fim de ano, arranjado às pressas para estimular o consumo e amainar o marasmo da economia dá mostras do que é: uma manobra inconsequente. Nada que mude a trilha recessiva.
O presidente se consolida no podium dos governantes mais rejeitados da atualidade.
A base de sustentação social e parlamentar do governo sofre fissuras crescentes.
Da parte oposta, a resistência democrática e a luta contra a perda de direitos ainda tem muito pouco a celebrar, salvo a sua ampliação paulatina, tanto no âmbito dos movimentos sociais como na esfera parlamentar e institucional. Mas ainda sem um norte claro e sem unidade.
Num país posto à beira do caos, carente de atores e mecanismos aptos à promoção de uma saída negociada para a superação do "racha" entre os chamados Três Poderes da República, todos se veem à mercê de uma casta situada no Ministério Público Federal em associação com parte do Judiciário e da Polícia Federal e o respaldo da mídia hegemônica.
Essa casta, que protagoniza o que se vem chamando de República de Curitiba, com falsa aparência de neutralidade e do combate à corrupção, não apenas desrespeita normas constitucionais e subverte regras processuais, como se presta a um conluio com interesses externos, mediados pelo sistema financeiro.
Desenhada assim a situação, em traços breves, porém dramáticos, mais do que compreensível se faz o pessimismo reinante na sociedade.
Desculpem meus provavelmente poucos leitores dessas linhas aqui publicadas semanalmente, esse modesto escriba também deseja a todos um Ano Novo rico em êxitos, mas os sabe condicionados a muita luta - fator determinante da esperança de dias melhores.
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